Apesar de não ser um estudo direccionado ao futebol de formação, consideramos importante e apropriado analisar um estudo realizado no Brasil, sob a temática “Esporte e Pais”. Apesar de generalista, porque abrange vários desportos, este artigo servirá como ponto de reflexão para a nossa realidade: o Futebol de Formação.
"O conceito de envolvimento dos pais no desporto, segundo Hellstedt (1990), é um “continuum” que vai do sub-envolvimento ao envolvimento moderado e, por fim, ao super-envolvimento.
Hellstedt define o sub-envolvimento como uma relativa falta de comprometimento emocional, financeiro ou funcional dos pais, que tem como indicativos a falta de comparecimento a jogos e eventos. Pouco envolvimento em actividades voluntárias (tais como o transporte), pouquíssimo contacto com os treinadores.
No envolvimento moderado, considerado pelo autor como sendo o ideal, os pais são firmes em suas orientações, dando suporte e ajudando os filhos a estabelecerem metas realísticas, além de serem financeiramente participativos.
O super-envolvimento ocorre quando os pais excedem a sua participação na vida desportiva dos filhos, não sabendo separar seus próprios desejos, fantasias e necessidades daquelas dos seus filhos.
Hellstedt verificou que baixos níveis de pressão estão relacionados com uma reacção positiva dos filhos. Ao contrário, altos níveis de pressão indicam reacções negativas. Sugeriu ainda, como problema principal, identificar o nível ideal de pressão que os pais podem exercer sobre seus filhos para que tenham uma reacção positiva, tanto no treino como na competição.
Carlsson (1993) estudou atletas jovens que obtiveram sucesso em diversos desportos, verificando que a iniciação no desporto organizado foi determinada pelos interesses dos pais e dos amigos, geralmente quando a criança tinha entre sete e nove anos.
O autor apontou, também, o apoio dos pais e as atitudes positivas como importantes durante todo o desenvolvimento de atletas jovens.
Carr, Weigand e Jones (2000) levantaram outro ponto importante relacionado à participação dos pais no sucesso dos filhos, que é a ajuda para o alcance de metas e crenças no desporto. A definição das metas dos atletas estava relacionada com as crenças e percepções de sucesso que os pais tiveram quando praticaram um desporto. Esses achados sugerem que os pais exercem grande influência, pois transmitem as suas próprias crenças, influenciando os filhos sobre as razões que levam ao sucesso no desporto e sobre como proceder para alcançar esse objectivo.
Dessa forma, Côté (1999) conduziu um estudo sobre os padrões da dinâmica da família para o desenvolvimento de jovens remadores. Esse estudo contribuiu para uma visão geral do comportamento dos pais, no desenvolvimento do potencial dos seus filhos em diferentes fases. O autor apresentou três estágios de participação no desporto que são:
anos de experimentação (de 6 a 13 anos), onde pais introduziam os filhos no desporto com ênfase no divertimento, euforia e possibilidade de vivências variadas;
anos de especialização (de 13 a 15 anos), marcados pelo crescente interesse e compromisso com o desporto, onde os pais enfatizavam produção na escola e no desporto, investindo tempo e dinheiro, tendo ainda irmãos mais velhos como exemplo;
anos de investimento (de 15 anos em diante), aumento do compromisso dos filhos e pais, demonstrando grande interesse e apoio para superar as dificuldades da progressão do treino; sendo estes similares às fases encontradas por Bloom (1985).
Destaca-se aqui que o remo é um desporto praticado pela classe média-alta, da mesma forma que foram os desportos estudados por Bloom, como o ténis e a natação.
Os pais, no estudo de Côté, também foram apontados como factor determinante para atingir o sucesso, na medida em que davam o apoio emocional necessário, bem como suporte financeiro e logístico. Esse apoio ocorreu durante as várias etapas de transição e as fases da carreira dos atletas, desde a escolha, o desenvolvimento na iniciação desportiva até chegar à participação em competições de alto nível.
Isto vem confirmar as discussões de Salmela, Young e Kallio (2000) sobre os períodos marcantes de transição como os mais críticos para o sucesso de atletas expoentes no futuro, dependendo das relações da tríade atleta/treinador/pais."
Tendo este estudo realizado no Brasil como ponto de partida para a nossa reflexão, cumpre-nos eleger o envolvimento moderado dos pais na formação desportiva dos seus filhos como o ideal.
Os nossos atletas estão num ponto importante da “pirâmide de formação”, uma fase de transição para um estágio de desenvolvimento muito mais complexo e exigente.
Dessa forma, cabe-nos a nós, treinadores e pais, criar aos jovens atletas um ambiente livre de pressões que lhes permita uma evolução das suas capacidades, mesmo através da aprendizagem pelo erro, caso tal aconteça.
“Hellstedt verificou que baixos níveis de pressão estão relacionados com uma reacção positiva dos filhos. Ao contrário, altos níveis de pressão indicam reacções negativas.”
“O autor apontou, também, o apoio dos pais e as atitudes positivas como importantes durante todo o desenvolvimento de atletas jovens.”
Apesar de o nosso escalão ter a subida de divisão como objectivo, não deveremos colocar uma tensão inusitada nos ombros dos nossos atletas. A tríade referida no artigo citado acima deverá funcionar de maneira a que o ambiente em torno da equipa seja propício à obtenção desse desiderato. Tal propósito só será atingido se todos “remarem” para o mesmo lado, numa comunhão de ideias, nas várias etapas do percurso, desde o treino ao jogo.
Terminamos esta rubrica com esta citação do estudo, que elegemos como o nosso alvo para esta época desportiva:
“Os pais, no estudo de Côté, também foram apontados como factor determinante para atingir o sucesso.”
Contamos com o vosso auxílio de forma a fazer cumprir um dos lemas que abraçamos este ano:
"Quando se sonha sozinho, é apenas um sonho. Quando sonhamos juntos, é o começo da realidade. "
Saudações Salgueiristas